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18 de outubro 2019

Montessori nos dias de hoje

Io voglio l’uomo che há vinto se stesso e si é formato un’anima grande. l’uomo che há conservato un corpo sano e robusto. Io voglio l’uomo che voglia con me, unire l’anima e il corpo per procreare il figlio! Il figlio migliore, piú perfetto, piu forte di quelli che hanno creato.” *

Maria Montessori. Dal infanzia all’adolescenza, Garzanti, 1939.

Quando Maria Montessori falava sobre seu trabalho, ela própria dizia que o método de educação Montessori poderia ser definido como uma ajuda à vida.

Uma ajuda com a finalidade de ajudar o ser humano na conquista de sua independência; como um meio para libertá-la das opressões e dos prejuízos que era submetida em nome da “educação”; naquela época muito mais restritiva e opressora.

Para Maria Montessori, era a personalidade humana e não o método de educação que deveria ser considerado. Portanto, dizia que o conhecimento científico da natureza das crianças e o reconhecimento dos seus direitos universais deveriam ser os sustentáculos para qualquer procedimento educacional.

O homem é universal e, quer esteja na Índia, na Europa, na América ou no Brasil, as leis que regem seu desenvolvimento são as mesmas.

“Mas onde começa o desenvolvimento da personalidade humana?” Questionava a cientista italiana que dedicou sua vida à criança; tendo certeza de que, para redefinir a qualidade de vida do homem, era necessário educar as crianças assim. 

Para entender a proposta educativa de Maria Montessori, é necessário compreendermos sua história e a história do próprio homem naquele momento cultural. 

A princípio, Montessori inicia seu trabalho numa época em que a Psicologia apenas começa a despontar. Além disso, ela fundamenta sua proposta em uma prática educativa focada na observação da criança, no afeto, na confiança entre o aprendiz e o mestre.

Isso tudo num ambiente que, como um ninho, recebe as crianças, fortalecendo-as no que se torna necessário para suas vidas e nutrindo-as na construção da inteligência.

Durante muito tempo, acreditava-se que a personalidade humana era “herdada” pelas crianças; de geração em geração. E a construção da inteligência humana, que as distingue das outras espécies animais, tornando-a única sobre a Terra, era ignorada.

Como se forma a inteligência humana? Por quais processos passa e que leis regem tais processos?

Ora, se todo o Universo se sustenta sob leis fixas, é impossível que o homem, dele, não tenha sustentado seu próprio desenvolvimento sobre leis semelhantes.

Poderíamos afirmar que as leis que regem o Universo são as leis cósmicas, as mesmas que regem o desenvolvimento do homem.

Somente num terreno bem cuidado podem germinar plenamente as sementes, as quais, por sua vez, constroem uma nova árvore, que certamente poderá produzir frutos saborosos.

Assim, somente cuidando do ambiente que acolherá a criança se poderá garantir um desenvolvimento que promova a conquista da harmonia pessoal; assim como da competência para construir uma vida com melhor qualidade.

Maria Montessori viveu em tempos de guerra, atravessou os dois grandes conflitos mundiais. Talvez por isso a paz fosse tão importante para ela. Talvez por viver o caos dos dias de guerra e de perseguição, a liberdade fosse uma conquista valiosa, inestimável.

Para ela, a construção de melhores condições de vida, de uma humanidade onde os valores éticos universais norteiem as relações; onde cada homem saiba respeitar e possa viver com dignidade, seja qual for seu credo ou sua raça; é o trabalho cósmico que está nas mãos das crianças.

Em toda a sua obra, é grande a certeza de que somente a educação é o agente da transformação da humanidade. Nesse sentido, é certo para Montessori que à criança cabe essa missão redentora, pois é o elo entre as gerações.

A construção da paz entre os homens é, sem dúvida alguma, o objetivo de todo o sistema de educação Montessori, num olhar olha para o sempre. Num olhar que percebe a grandiosidade do trabalho do homem nesse planeta e de toda a sua história.

É necessário que a sociedade moderna possa preparar adequadamente o homem para o estado presente da vida social; para a cidadania; para a organização moral.

Geralmente, os homens são educados considerando-se apenas como seres individuais, com interesses imediatos para serem satisfeitos, competindo com outros indivíduos. Nesse sentido, poucos são os que se dão conta de que somente quando o progresso está relacionado ao bem-estar comum ele se estabelece e se multiplica. Muitas são, certamente, as situações vividas pela humanidade que comprovam tal afirmação.

Podemos afirmar que o que compete à educação é oferecer ao homem as condições de reflexão que permitirão seu próprio aprimoramento e assim, consequentemente, a “reconstrução” da humanidade.

Montessori declara que o homem precisa tomar consciência de sua própria história, perceber inter-relações entre seres e usar do passado para poder construir o futuro.

Mas para tudo isso não basta lançar um princípio abstrato ou propagar uma convicção — é preciso arregaçar as mangas e pôr as mãos à obra. Construir cada etapa, assentar cada tijolo, tendo em mente a importância do trabalho a realizar na educação das crianças.

Quando tudo começou, havia apenas a pequena “Casa dei Bambini” da vila de San Lorenzo, em Roma, 1907.

Hoje, teorias como as de Gardner (sobre as múltiplas inteligências); de Goleman (sobre a inteligência emocional) ou de Emília Ferreiro (sobre a psicogênese da língua escrita) ratificam as práticas montessorianas, assim como a Neurociência.

Afinal, Montessori foi uma cientista demasiadamente brilhante; com a visão da provisoriedade da verdade científica. Teve como base do seu trabalho a observação da criança à luz do conhecimento científico de cada época. A criança de cada momento, de cada país, de cada raça, com suas particularidades; mas sempre a criança que constrói o homem.

Como resultado, cada nova descoberta no campo da ciência permite maior aprofundamento na observação e no conhecimento dessa criança e, consequentemente, da personalidade humana.

Hoje, espalhadas pelos quatro cantos do mundo, as escolas de educação Montessori se multiplicam. Em cada uma delas, ocorrem atividades que se sucedem no cotidiano escolar. Nelas, as crianças vivenciam situações onde podem se exercitar quanto aos valores que fundamentam uma cultura de paz; desabrochando sua criatividade – protagonistas que são da sua educação.

Assim, em ambientes estruturados segundo as necessidades de cada etapa do desenvolvimento desde os primeiros anos, seja nos “Nidos” até a adolescência; ou em classes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio; depois, já adultos, na Universidade; todas as escolas montessorianas consagram à vivência dos valores éticos universais um papel relevante na formação dos estudantes. Definitivamente, Maria Montessori também percebeu a importância da educação emocional.

Nesse meio tempo, cada situação de classe envolve uma possibilidade de exercício. Quer seja na ecologia pessoal, aprendendo a cuidar de seu corpo, alimentar-se, educar seus movimentos; ou na ecologia ambiental, ainda assim aprendendo a zelar pela conservação da ordem nos diferentes ambientes no espaço escolar. Pode ainda fazer parte da ecologia social, desenvolvendo atitudes e valores como verdadeiros construtores da paz.

Nessas escolas, o conhecimento acadêmico está diretamente relacionado ao serviço da responsabilidade social; da solidariedade e de outros tantos valores que subsidiam a construção da PAZ.

Dessa forma, educação precisa estar a serviço do homem e este, por sua vez, precisa entender a necessidade do seu serviço à humanidade.

Em suma, essa é a visão cósmica que fundamenta os pressupostos filosóficos do Sistema de Educação Montessori: A PÁTRIA DO HOMEM É O UNIVERSO!

Assim, para Maria Montessori, não bastava uma escola que cumprisse com sua função acadêmica, ela queria mais: queria uma escola que pudesse “formar o homem completo”.

Nesse sentido, esse homem seria consciente de seu papel na humanidade, responsável consigo próprio e com os outros. Bem como capaz de harmonizar o corpo e o espírito. Do mesmo modo, capaz de criar gerações cada vez mais capazes de buscar o próprio aprimoramento e assegura melhor qualidade de relações e de vida.

“A educação não tem o direito de reduzir a instrução a uma simples graduação para conseguir este ou aquele emprego. Este deve ser encarado apenas como um meio prático de nos inserirmos na sociedade. Não se pode encarar tal circunstância como uma finalidade da educação ou estaríamos sacrificando o indivíduo.” — Maria Montessori

“Eu quero o homem que venceu a si mesmo e formou uma grande alma. Quero o homem que preservou um corpo saudável e forte. Quero o homem que quer comigo, juntar a alma ao corpo para procriar o filho! Melhor, mais perfeito, o mais forte que as crianças que eles foram .”*

* Tradução da citação inicial

Por Marcia Righetti – que, além de fundadora e diretora pedagógica da Aldeia Montessori. É pesquisadora, especialista no Sistema de Educação Montessori,  coach de formação Montessori e diretora do Centro de Estudos Montessori.