Página de posts do Blog

23 de abril 2014

As mãos das crianças são o caminho para descobrir o mundo.

“A terra é onde nossas raízes estão, as crianças devem ser ensinadas a sentir e viver em harmonia com a terra.”

– Maria Montessori

 ㅤ

A cada dia, cercada pelos estímulos da natureza a criança vai descobrindo as inter-relações entre os seres vivos, seu habitat, suas necessidades; assim, a verdadeira Ciência que se manifesta através da vida, em cada reino, na matéria e na energia.

Por isso, não há nada que possa substituir a sensação das mãos tocando a terra molhada ao cuidar do jardim, ao plantar uma mudinha de onze horas e cuidar todos os dias, para ter o prazer de vê-la florir; cuidar do peixinho no aquário da classe, sentir, pelo toque, o pelo macio do coelho ou a pele dura das tartarugas; observar muitos cantinhos a procura de bichinhos de jardim ou esperar pacientemente que a borboleta saia do casulo. Esses são momentos comuns numa escola Montessori.

Assim, são as mãos da criança que vão construir o significado de cada elo na teia do conhecimento científico.

Usando as mãos, o maravilhoso “presente” confiado a espécie humana, a criança explora o mundo, desenvolve seus poderes mentais, constrói–se e, se construindo, forma o adulto.

Nós somos, cada um de nós, como Montessori diz, “a criança da criança” que um dia fomos ou se você preferir o lirismo do poeta inglês  Wordsworth: “A criança é o pai do homem”.

Criança aprende tocando, fazendo, vivendo! A observação ativa o sistema sensório motor; as mãos exploram, descobrem, reconhecem. O tato ajuda a registrar as impressões, às quais imprime significado. Assim, a natureza é a primeira “fonte de estudo” que nutre a curiosidade natural da criança.

Primeiro amar o animais, amar as plantas, amar os minerais, encantar-se com as diferentes fontes de energia e logo depois estudar e aprender sobre cada um destes aspectos.

Primeiro descobrir-se como parte neste todo, descobrir-se responsável, agir  com responsabilidade: cuidar de plantinhas, alimentar animais, poupar água, aprender a usar a luz somente quando necessário; depois descobrir que isto é cuidar do planeta.

No processo de desenvolvimento do Currículo do Mundo para as crianças pequenas, que adotamos na Aldeia Montessori, as etapas do trabalho da criança vão sendo auxiliadas por materiais de desenvolvimento cuidadosamente preparados para ajudá-la a organizar as informações que vai construindo sobre o mundo.

Assim, o contato com o mundo real, a  observação da natureza e a vivência da cultura são o ponto de partida, estimulam a mente no esforço para nomear, classificar e entender.

Pouco a pouco o Cosmos vai sendo apresentado a criança em contatos sucessivos, cada dia mais significativos. Cada parte que compõe o todo vai aos poucos sendo descoberta!

Para as crianças pequenas, a abordagem cósmica será especialmente uma experiência de exploração sensorial e de movimento. Suas mãos vão tocando e desbravando o mundo.

Assim, nas atividades cotidianas, explora, observa, nomeia, compara, classifica; vai assim desenvolvendo o pensamento cientifico.

Montessori observou que as crianças pouco a pouco anseiam por ampliar seu horizontes e descobrir o mundo além de seus portões, um mundo maior, outras terras, outras gentes, o universo!

Querem ganhar maior independência dos seus pais, mostram um interesse crescente no comportamento dos seus pares, formando mini sociedades com suas regras próprias e hierarquias.

Assim, nesta idade, as crianças por volta do 6 ou 7 anos amam histórias com grandes feitos, admiram os super-heróis da vida e desenvolvem um profundo senso de moralidade e justiça.

O significado verdadeiro para essas crianças não mais reside no nome e no lugar onde está cada objeto. Elas querem saber “porque e como” cada coisa acontece.

Portanto, o que acontece é que no processo de adaptar-se, cada um quer encontrar onde é o seu próprio lugar: onde no tempo; onde no mundo; onde no cosmos. E como as crianças estão ingressando, aqui, na idade da imaginação, suas mentes podem conduzi-las através do tempo e do espaço.

É por isso que no período que se inicia por volta do 6 anos e vai até cerca de 12 anos, as crianças amam histórias com grandes feitos e foi isto que Maria Montessori comprovou.

Criou então “as grandes lições”, que provocam novas buscas e novas descobertas sobre o Universo, a Terra e a Humanidade, falam do surgimento do Universo, da energia e das transformações da matéria; da evolução da vida; das necessidades fundamentais do homem, de como o homem construiu a cultura e adaptou-se ao planeta Terra.

As grandes lições instigam à pesquisa pessoal e a realização de  experiências que desenvolvem também a construção de princípios nas diferentes vertentes das ciências; cada aluno envolve-se então em projetos pessoais que ampliam conhecimentos.

Mãos a obra para viver cada ciclo da Terra, que pode incluir na botânica o plantio de sementes na primavera e a colheita no outono; observar a  chuva que mostra o ciclo da água criar com sucata um rudimentar sistema de irrigação para os jardins da escola; observar o acasalamento dos pássaros, a ninhada que nasceu no galinheiro…

Descobrir, nas áreas verdes da escola ou da comunidade, em atraentes aulas passeio, muitos insetos, animais selvagens; fazer discussões a respeito das criaturas vivas e o seu lugar na natureza; a oportunidade de sentir mais de perto a cadeia alimentar e construir pouco a pouco o conhecimento sobre os diferentes ciclos da vida.

Comprovar os avanços tecnológicos e descobrir a responsabilidade que eles requerem do homem.

Em cada estação uma necessidade da vida humana, uma comprovação da vida do planeta.

Se chegarmos as classes de 12 a 15 anos, sucessivas descobertas ganham novos registros, as pesquisas tomam aqui um cunho científico mais formal.

Assim, a Ciência precisa ser foco de um estudo mais profundo e assumir seu papel  a serviço da humanidade, um laboratório é o centro de trabalho desta turma adolescente  que se encanta em desvendar os mistérios da vida e buscar soluções para melhorar condições da vida no planeta.

Assim, dos laboratórios para o mundo; e de novo as mãos levam para a terra o conhecimento que um dia nasceu ao cuidar de uma sementinha; ao alimentar um animal; ao fazer fogo atritando pedrinhas, como um dia, fizeram nosso antepassados.

“Não há descrição alguma, nenhuma imagem em qualquer livro que seja capaz de repor a visão de árvores reais, e tudo da vida que pode ser encontrado ao redor delas, numa floresta de verdade.”

– Maria Montessori

 ㅤ 

Por Marcia Righetti, diretora do  projeto pedagógico da Aldeia Montessori, no Rio de Janeiro, para crianças de 4 meses a 11 anos, escola sócia- fundadora da Organização Montessori do Brasil; diretora do Centro de Estudos Montessori do Rio de Janeiro, dedicado a capacitação de profissionais para a prática do Sistema Montessori de Educação;  integrante  a comissão científica da Organização Montessori do Brasil.